A bandeira verde deve ser a mesma há 20 anos de tão pouco gasta que deve estar. Quando ela aparece, podia jurar que as pessoas se benzem e ficam boquiabertas a pensar na próxima consulta de oftalmologia. A vermelha, e em dias de sorte, a amarela, estão sempre a uso.
Quando o resto do país está no forno, aqui estamos assim num quentinho fresco, ou num fresco morno. Na mochila de praia, junto aos lanches e às toalhas, vêm sempre camisolas ou casacos. Em muitos dias de banhos, vestimo-los.
O corta-vento é obrigatório está visto. Muito mais que o guarda-sol que de tão pouco uso, está ainda muito pálido porque nunca tem tempo de se bronzear.
E sim, é praia, tem céu azul imenso, umas ondas de pedir por mais. Mesmo com aquela água fria a que já nos habituámos e que os miúdos dizem sempre que: "Está boa mãe!". Eu demoro sempre muito a entrar. Estar com eles faz com que tenha mesmo que o fazer porque não param quietos, e estou-lhes grata. Os miúdos esticam-nos a alma, o corpo, o coração até onde pensamos que não é possível mais. Por isso, tenho a certeza, certezinha, que se não fossem eles, eu estaria muitos dias, apenas deitada na toalha em banhos de sol. Agradeço-lhes os banhos de vida que me dão.
Quase todos os dias, por graça, vejo a temperatura que o carro regista naquelas bandas. Raramente passa os 22º, 23º. E houve dias em que tivemos uns belíssimos 19º e com a sorte algum sol. Porque também há os dias cinzentos (muitos deles), em que vamos para a praia na mesma.
E vamos porque... é a nossa praia. Tem histórias, recantos, rotinas novas e antigas. Cheiros só nossos. Pela facilidade de casa que temos por aqui. Por ser a "nossa" praia, aproveita-mo-la até às entranhas, mesmo que na maior parte dos dias estejam 23º com vento fresco ou 19º com sol.
Penso muitas vezes porque é que, por casa e com temperaturas iguais, só porque dizem que é outono ou primavera, tiramos a cara de verão. Tiramos a cara e vestimo-nos de uma outra estação que não é a que queremos, à conta de uns chuviscos ou porque o calendário assim o exige.
Nos países nórdicos, uma ponta de sol é aproveitada com a raridade que tem de ser saboreada até não dar mais. Se eles prolongam o verão até lhes apetecer, decidi que não sou menos do que eles. Por isso hoje, mesmo estando o céu de cinza-moda, e já me tenha chovido em cima, eu é que decido quando o verão acaba, e se me continua a apetecer usar calções, não me vou enfiar já dentro de galochas, calças apertadas e blusas de 3/4 ou lá o que é.
É uma questão de estado de espírito e eu quero que o meu verão, com eles, seja todo o ano.
Fotos: Penso Rápido