Às vezes levamos para a cama, não apenas sono ou um bom companheiro. Às vezes levamos connosco meio mundo, que fico por ali sentado, a olhar, a mordiscar-nos a paciência, as orelhas, as chatices, a picar. Coisas do dia a dia, normalmente, quase sempre, coisas chatas, achatadas e indrominadas Coisas que nos tiram o sono e que insiste em não desligar. Revêm-se episódios, histórias mal resolvidas das muitas horas do dia, ou de dias anteriores. Frases ditas, malditas que se ouviram, ou que ficaram por dizer. Quantas vezes, só depois de se bater com a porta é que sai aquela frase que lhe encaixava maravilhosamente, que nem um estalo, a alta velocidade?
Continua-se a escrever, a vomitar. A luz acesa ajuda a que os pensamentos sosseguem mais um pouco. O cansaço vai-se instalando. Fazem-se contas de quantas horas faltam para o maldito despertador voltar a tocar. O ciclo recomeça e enviam-se pragas aos demónios, responsáveis por estarmos acordados a horas tão tardias.
Os olhos a quererem fechar. Sentimento de injustiça continua por lá e estes voltam-se a abrir num ápice.
Lembra-se então, da película de um filme. Das muitas, muitas sequências de imagens que lhe dão vida. Assim como as preocupações de uma insónia. Dar a dimensão aos demónios como eles a merecem: ridiculamente pequena. Um instante de imagem, comparada com toda a longa metragem que já lá vai e com toda aquela que ainda está para vir. E que venha.
Daqui a pouco, o relógio toca. Já vomitei. O resto, os demónios, terão um destino tal qual como o vómito: sanita abaixo. E agora desculpem, vou puxar o autoclismo, apagar a luz...e dormir. Bons sonhos.
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