Há um excerto do livro de Comer, Orar e Amar (pág. 160 - 161), de Elizabeth Gilbert que diz mais ou menos isto:
"Talvez o Richard do Texas não pareça um iogue típico, embora o tempo que passei na Índia me tenha ensinado que é difícil dizer o que isso é. (Basta pensar no produtor de leite da Irlanda que aqui conheci no outro dia ou na antiga freira da África do Sul). O Richard veio para este centro de ioga através de uma ex-namorada, que o levou do Texas ao ashram em Nova Iorque para ouvir a guru falar. Richard diz:
- Achei que o ashram era a coisa mais estranha que alguma vez vira e comecei a perguntar-me onde é que seria a sala onde teríamos de entregar todo o nosso dinheiro e os documentos da nossa casa e carro, mas isso nunca aconteceu...
Depois dessa experiência, que tinha sido há cerca de dez anos, o Richard deu por ele a rezar a toda a hora. A sua oração era sempre a mesma. Estava sempre a pedir a Deus. Por favor, por favor, por favor, por favor abre o meu coração. Era só isso que ele queria - um coração aberto. E acabava sempre a prece pelo coração aberto pedindo a Deus:
- E por favor manda-me um sinal quando isso tiver acontecido.
Agora, ao recordar esse tempo, diz:
- Tem cuidado com o que pedes, Mercearias, porque podes recebê-lo.
Após alguns meses a orar constantemente por um coração aberto, o que pensam que o Richard recebeu? Isso mesmo - uma cirurgia de peito aberto ao coração."
A história, baseada na realidade, não deixa de ter uma certa graça. A graça que o Universo tem:
- quero ter mais tempo para os miúdos ...e fica-se desempregado;
- apetecia-me ficar todo o dia na cama ...e parte uma perna;
- não tenho tempo para ir correr, fazer caminhadas, entrar para o ginásio ... e é despromovido.
Quase que parece um síndrome qualquer de bumerangue, pede-se, deseja-se e acontece. Normalmente um pouco fora dos nossos planos, formas de estar, nem sempre no tempo que pensamos que seria adequado e por vezes em circunstâncias que não parecem as ideais. Nunca o são. Mas acontece. E volta-se a questionar tudo, a definir prioridades.
A verdade também é que realmente tem a sua graça. Aceitar aquilo que se deseja da melhor forma possível porque a preparação vem com o caminho, com o desafio aceite. Os pormenores que embelezam e que estavam tão bem dentro de nós como um filme em que tudo acaba por correr bem, esses, os pequenos, grandes pormenores vêm com o tempo, com dedicação e entrega. E traçar um plano, A, B, C, o que se queira, mas um plano diário, semanal, mensal que nos prepare, deixando em aberto, para a graça do Universo.
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