Não era um umbigo qualquer. Não sanhor. Era assim... uma perfeição. Com a curvatura certa. A antever que por detrás das pregas de pele, estaria um mundo por descobrir. E mais. Sem ponta de cotão. Não sanhor, que aquilo era um umbigo asseado. Era um umbigo lindo de morrer. Sim sanhor.
E quantas vezes se vai para casa a magicar naquilo que o outro disse? Quantas? Hum, confesse-se. A pensar naquela expressão. Naquela piadita de mau gosto. Quantas? Há, inclusive quem perca o sono, a fome, a vontade de fazer práticas tão bonitas do amor, só, só a pensar no que a Belmira do 3º direito disse. Ou o Nunes, do escritório do lado. E a outra, a loira da loja da frente, sempre ali a pavonear-se...
A verdade é que é tudo uma questão de umbigo. Ora formemos um pensamento coletivo. Sabem quanto tempo o Nunes ficou a pensar na piadola que mandou? Nem um décimo de segundo! Nem a Belmira que está é preocupada com os cabelos brancos que lhe começaram a aparecer. Nem a loira da loja que, afinal, está a pensar que a ruiva do fundo da rua tem melhores manequins na montra do que ela.
A grande maioria está a pensar NO SEU PRÓPRIO UMBIGO! Não generalizando, é claro, mas esta ideia acaba por ser extremamente tranquilizadora. Porque quando se dá muito peso a situações que não o merecem (e a grande maioria, não merece mesmo!) é pensar no umbigo e aceitar que aquilo com que o outro nos quis atingir não vale o tamanho de um umbigo: disparou, atirou e..... ups, esqueceu! Justifica ficarmos a contar carneiros durante uma noite inteira, por causa do Antuntes? Não justifica, não sanhor. O Antuntes já está noutra.
Relativize-se. Porque na verdade, a maioria está a pensar no seu próprio quintal...ou umbigo lindo de morrer. E sem cotão, se faz favor.
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