O carteiro tocou à porta.
Abro e espero que seja alguma encomenda ou carta registada. A casa não é minha, mas na minha é assim que funciona. Na maior parte, acho. Encontro já o carteiro a entrar na carrinha, espantado por esta minha cara que não conhece e diz: “Há correio!”. Fecho a porta, um pouco sem perceber e digo:
“ – Oh tia, mas aqui os carteiros têm tempo para tocar a campainha e avisar que há correio??
- Não minha querida, mas ele é um querido amigo nosso e devia ser para se meter connosco!”
E foi assim, mais ou menos, durante uma semana. Entre a vizinha que aparecia e dizia: “Olha aqui estas alfaces viçosas! Eu que saiba que andes a comprá-las!! Em precisando é só dizeres.” “Ó Luís, tire-me aqui a carrinha do meu homem que preciso de lavar o garagem e ele saiu cedo.” Ou ainda… “Vou ali levar as sobras do jantar e as cascas das verduras para o porquinho da vizinha…custa-me deitar isto fora se o bichinho até os come.”
Isto tudo passou-se numa cidade, pequena é certo, mas onde se vive em espírito de comunidade. Nem sempre assim será mas em tempos em que existem tantos espaços individuais, os espaços coletivos parecem importantes que se voltem a desenvolver. Um espaço que sempre existiu nas aldeias e que permitiu a sobrevivência física mas também muito de sobrevivência psicológica de tempos mais ou menos difíceis. Pode até não ser preciso nada mas só de se saber que está por ali alguém com quem falar, pedir, partilhar, a quem também se dá e por esse mesmo motivo, e ao mesmo tempo, se recebe.
Qual a responsabilidade individual de cada um, no contributo coletivo? Cabe a cada um responder. Nem todos estarão para aí virados, encaixados ou ajustados. Ver uma experiência destas ao vivo faz pensar. E são tempos de repensar.
Só um bocadinho…estão de novo a bater à porta…quem será?
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