No outro dia soube de um relógio, chama-se Tikker que, ao usar, indica em contagem decrescente, o tempo de vida disponível de quem
o usa. Certamente polémico. Uns a adorar a ideia por terem mais esta questão sobre controlo, outros a acharem um absurdo.
Há quem argumente que assim se promove a consciência de cada dia. Verdade, para
quem o for capaz de fazer. Para outros tantos será desgastante esta contagem
decrescente de finitude.
Deste lado seria incapaz de o
usar. Já me chegam os horários que temos, quanto mais um relógio a dizer que
tenho de aproveitar, até ao tutano, cada dia. Sei disso mas a ideia em si,
seria esgotante. Como alguém em constante estado de paixão quando, por outro
lado, um tranquilo amor, a pautar os dias sabe tão bem.
Por isso o uso ou não é uma
questão de atitude perante a vida (ou a morte). A reflexão dos dias e do que
lhes queremos dar, o que mais valorizamos. Que importância tem uma caneca de
leite derramada, por cima da camisola acabada de vestir para sairmos todos de
casa? Ou uma multa, mais uma multa, num mês já de si complicado? Ou um
telefonema mal amanhado de alguém de quem não se estava à espera? A lista
continua… Será que um relógio consegue ajudar a relativizar o que importa, do
que não?
Pessoas bem resolvidas, às vezes
já em idade avançada, restringem-se ao que é realmente importante para as suas
vidas. A minha avó era assim. Sem relógio a marcar-lhe o compasso. Mesmo com
todas as contrariedades da vida tirava o melhor partido de cada dia, com um
sorriso no olhar. É um treino diário. Vai haver dias em que se manda tudo ... às urtigas. E outros dias em que tudo parece encaixar, mesmo não batendo nada
certo.
Se chegar lá perto, dou-me por
satisfeita.
Sem relógio, cada vez, com menos relógio.
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