Era um novelo bonito. Tinha um nome e tudo. Desta vez era paixão. Não era aquela paixão pelas pessoas ou por uma pessoa em particular. Nem pela música, por andar de mota ou comer. Há tantas paixões. Aqui era a paixão por fazer o que mais gostava.
O novelo também já se chamou mãe, amiga, filha ou amor. Ou angústia ou gata ou livro. São quase sempre assim os novelos feitos de muitos fios, tecidos ao longo do tempo. Cada fio uma história, um desenvolvimento e, supostamente um crescimento de si própria. Acrescenta mais um pouco e vai ficando maior, maior, maior. Às vezes são histórias que fazem sorrir por dentro. Tanto que não lhe cabe no peito e começam a sorrir os olhos, o nariz, os cabelos, as orelhas. Outras vezes são histórias menos alegres mas nem por isso menos importantes. Aí a linha cresce mais devagar porque lhe dói cada fio que é acrescentado. Nesses pontos a linha fica com uma cor um pouco diferente para que não se esqueça do que passou, para ali chegar.
Tinha uma estante lá em casa (ou seria na sua cabeça?) com novelos de tamanhos e tamanhinhos e tantas cores acumuladas nos novelos dos dias. Perdão, nos novelos das coisas que lhe aconteciam.
Até eram bonitos, ali. Parados. A olhar. Ela para eles e eles para elas. Só que às vezes embaraçavam-se. Normalmente era um de cada vez, outras vezes, misturavam-se todos uns com os outros. A gata gostava daquele caos instantâneo e contribuía ainda mais para que o caos se instalasse. Na maior parte das vezes não era culpa da gata, claro. O (des)mérito era todo dela.
Já sabia de cor que o melhor era afastar-se por uns tempos. R-E-S-P-I-R-A-R looooongamente para depois pegar numa ponta e aos poucos, encontrar o fio à meada. Um por um, cada fio, cada história, cada verdade sua, voltar a ter sentido. E o novelo, voltava a ser novelo de novo, já com outra forma e volume mas com as histórias dos fios no seu lugar. Pegar num fio de cada vez. Só isso.
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