Peças de Lego

Sentiu-se em construção. Não foi assim uma coisa repentina. E quando estava a estrutura montada nem deu por si, como é que aquilo aconteceu. Foi uma peça daqui, num outro dia foi mais uma. Uma leitura. Uma palavra amiga de incentivo. Um acreditar que foi nascendo. Quando deu por si, tinha tudo montado. Perguntei-lhe como é que fez, qual foi a receita, como é que chegou aquele ponto em que parece que faz tudo sentido, uma segurança que lhe estava inscrita no à vontade com que lidava com o dia-a-dia e no acreditar que, no fim e no princípio, a vida lhe ia correr bem.

Encolheu os ombros e fitou-me nos olhos. Explicou-me com um carinho, como só ela sabia, que era assim como... peças de lego. Quando deu por isso, havia algo dentro dela que estava assim mais seguro, mais para a olhar para a frente. 

Agora já nada te derruba, pois não? Quer dizer, dificilmente voltas atrás. - perguntei-lhe na esperança que me desse a tal receita de como chegar aquele porto seguro em que há mais dias Sin´s, do que Não´s. 

Sorriu, um sorriso rasgado e abanou a cabeça a dizer-me que não.Fiquei confusa. 

Ontem, ao final da tarde, as peças caíram quase todas para o chão. Fiquei para ali a olhar para elas, desatei num pranto. Parva. Esqueci-me que as peças caem, desmontam-se. Passados dez minutos, apanhei aquilo tudo e voltei a coloca-las o lugar. - disse-me isto como se fosse a coisa mais natural deste mundo. Pelo menos do dela.

Lembravas-te do local exacto de cada uma? - voltei a insistir. 
Não! Nunca ficamos os mesmos. Estamos em construção. E isso não tem mal.





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